Motorista de tuk tuk em Lisboa, que dublou Paolla Oliveira em Vale Tudo, fará comédia

Taty Moço, que já vendeu brigadeiro na Praia de Copacabana e no Cais do Sodré, ficou famosa após um vídeo, em que mostra a dificuldade de entender o português de Portugal, viralizar nas redes sociais.

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Taty Moço com a peruca de Heleninha Roitman, de "Vale Tudo". Ela subirá ao palco para fazer comédia Arquivo pessoal
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Taty Moço tornou-se uma figura popular nas ruas de Lisboa, onde leva turistas para cima e para baixo em seu tuk tuk. No ano passado, em visita a Portugal, a apresentadora de tevê Eliana fez questão de passear no triciclo da brasileira. “Mas, quando comecei, não sabia explicar nada sobre os monumentos do país”, confessa ela, que atrai os visitantes com as histórias que conta de um jeito muito bem-humorado. Uma delas foi parar nas redes sociais e viralizou. “Foram seis milhões visualizações”, comemora Taty, que, no vídeo, relata que arrumou um emprego em uma cafeteria, mas desconhecia até o que era uma chávena (xícara).

Mas o que mexeu com os 120 mil seguidores de Thatiane Moço Machado de Sousa, 33 anos, no Instagram, recentemente, foi a sua participação em Vale Tudo, como dublê de Heleninha Roitman. No remake, que estreia no próximo 26 de maio, na Globo Portugal, a personagem vivida por Paolla Oliveira toma um porre, tropeça e cai da escada da mansão onde mora, no Rio de Janeiro.

Taty, que trabalhava como dublê antes de atravessar o Atlântico, aproveitou que estava no Brasil, onde ficou de janeiro a março, para faturar um extra com a novela. “Avisei as empresas de dublê que eu estava por lá e que precisava de dinheiro para voltar para Portugal. E eles me chamaram”, explica ela, que ficou surpresa quando soube que dublaria a famosa atriz.

“Quando me disseram que era a Paolla, eu pensei: ‘caraca, mano, estou gorda e o meu cabelo não tem nada a ver com o dela’. Acabei usando uma peruca muito feia”, diz, às gargalhadas. A cena foi feita uma vez só e durou, calcula Taty, sete segundos. “Eu queria ter rolado do alto da escada, mas a personagem, depois, teria que aparecer machucada e a direção não queria isso. Mas eu estava doida para cair lá de cima”, afirma.

Trabalho é trabalho

Durante os três meses em que ficou na terra natal para matar a saudade, principalmente, do filho Davi, 11, Taty também serviu como dublê na abertura do Fantástico (uma releitura de Isadora Ribeiro surgindo das águas, em 1987). As sequências foram feitas dentro de uma piscina, nos Estúdios Globo (antigo Projac).

“Eu fui lá só para servir de bucha. Fiquei dentro da piscina para ensinar as técnicas para a atriz (Isadora Cruz) descer e subir dentro d’água. Eles fizeram os testes de cena comigo também, para não cansá-la”, conta Taty, que ainda caiu de uma cachoeira, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, como dublê de Paulo, o Apóstolo, da Record. “A água estava muito fria. Mas, quando a gente está trabalhando, não pode ficar escolhendo a temperatura da água".

Ainda muito jovem, com o sonho de se tornar atriz, Taty se matriculou na renomada Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), mas desistiu por não ter como pagar a mensalidade. “É coisa para gente rica”, avalia ela, que conseguiu se formar em artes cênicas pela Companhia de Teatro Contemporâneo, em Botafogo.

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Taty Moço e o seu tuk tuk: subindo e descendo pelas ruas de Lisboa Arquivo pessoal

Porém, depois de formada, veio a pandemia. Mesmo assim, na época, Taty começou a fazer figuração em novelas. “Mas isso não é atuar, você fica lá de plano de fundo só”, ressalta. Em 2021, entretanto, nas gravações do folhetim Quanto Mais Vida, Melhor, na Globo, ela conheceu uma turma de dublês. E gostou. “O diretor falava diretamente com eles e a câmera pegava a ação deles. Achei bem legal”, comenta.

A estreia de Taty como dublê aconteceu na segunda temporada de Bom Dia, Verônica, em 2022, da Netflix. Ela dublava a personagem de Tainá Müller, protagonista da série. “Foi quando eu comecei a treinar luta, queda, a ter um preparo melhor”, frisa.

"O bagulho é doido"

Há dois e meio em Lisboa, a atriz e dublê resolveu sair do Brasil incentivada por um amigo que morava em solo luso. Era uma chance também de mudar de vida. “Só que eu me lasquei toda. Depois de um ano e meio, cheguei a comprar a passagem para ir embora. Mas, no dia da viagem, desisti. Não queria voltar com aquela sensação de fracasso. Resolvi esperar mais um pouquinho”, admite.

Nesse meio tempo, Taty, que vendeu brigadeiros no Cais do Sodré (repetindo a experiência que viveu na Praia de Copacabana), conseguiu um emprego como motorista de tuk tuk. “Mas tomei outra paulada, porque, no inverno, é horrível para trabalhar aqui, e eu não sabia”, suspira.

Em abril do ano passado, porém, ela fez um tour com um casal de brasileiros que mudaria a sua trajetória em Portugal. Durante o passeio, eles gravaram um vídeo em que ela aparece contando como sofreu, no início, para entender as palavras que os portugueses usam e que são diferentes do vocabulário brasileiro.

“Uma vez, chegou uma cliente para tomar café onde eu trabalhava. Ela virou-se para mim e disse que gostaria de um café sem princípio, na chávena. Ainda por cima, a mulher falava muito rápido. Eu não entendi nada! Então, fui perguntar ao meu chefe o que era um café sem princípio. Eu pensei: ‘é um café sem caráter, como assim’. E essa chave que ela pediu. Eu não sabia o que era uma chávena, muito menos café sem princípio (sem as duas primeiras gotas que saem da máquina). O casal morreu de rir”, derrama-se.

E complementa: “Acho que viralizou também porque muitos imigrantes se identificaram com aquela situação. A gente acha que fala a mesma língua, mas, quando chega, o bagulho é doido”, aponta.

Agora, a comédia no palco

Hoje em dia, Taty, que também já se virou suando a camisa em obras no Brasil (ela trocava piso, pintava casas, fazia instalação de ventilador), vem colhendo os frutos de sua veia de comediante. No próximo dia 26 de maio, ela participará das apresentações do grupo Gaviotas Comedy Club, no Porto, e, no dia 2 de junho, em Lisboa.

“O dinheiro ainda não chegou, mas as portas estão se abrindo aos pouquinhos. Estou até fazendo stand-up”, vibra Taty, que não imaginou a repercussão da cena com Paolla Oliveira. “Em nenhum momento, pensei nisso. Fui chamada para trabalhar, e, para mim, isso já é o máximo. Estar num set é algo que eu adoro”, acrescenta.

E ela avisa que continua ganhando o pastel de nata de cada dia ao volante do tuk tuk. Agora, com a história de Portugal na ponta da língua. “Estudei direitinho e também aprendi a falar inglês para me comunicar melhor com os gringos", garante. "Muita gente gosta de fazer o tour comigo, porque eles querem a diversão, a zoeira, a animação que eu faço”, orgulha-se.