Hercules Gomes leva piano brasileiro ao Clube do Choro de Paris
O artista começou como tecladista em uma igreja e, hoje, propaga a música brasileira por plateias em várias partes do mundo. Desde a pandemia, ele mantém no ar uma live semanal para seu público.
Com quase 30 anos de carreira, iniciada como tecladista na igreja que frequentava aos 16 anos, o pianista Hercules Gomes jamais abriu mão da versatilidade. Nas muitas apresentações que fez mundo afora, passou pelo pagode, pela bossa nova, pelo jazz, pela música popular e pelos clássicos, reinventando-se durante a pandemia, quando encontrou, nas redes sociais, um público cativo, com milhares de seguidores.
O artista estará na França em 16 de junho próximo, onde se apresentará no Clube do Choro de Paris com um repertório de composições autorais e de outros músicos. Hercules foi contemplado com uma bolsa do edital da Fundação Nacional de Artes (Funarte). O projeto, uma conexão Brasil-França, tem como objetivo proporcionar que artistas representem o país e levem a música brasileira a todas as partes do mundo.
Apesar de todo o reconhecimento, não foi fácil a trajetória do pianista, que veio de uma família de poucos recursos financeiros, porém, de muita inspiração. O pai era funileiro, mas tocava violão muito bem. Foi com 13 anos que o garoto aprendeu os primeiros acordes do instrumento. Mas o encantamento se deu pelo teclado, já na igreja que frequentava. Ali teve a certeza de que seria músico profissional. Os primeiros passos na carreira foram dados numa banda de pagode.
Em busca pelo crescimento
Nascido em Vitória (ES) há 45 anos, o artista percebeu logo cedo, que, se quisesse mesmo viver de música, teria de deixar a cidade em busca de centros mais desenvolvidos. Antes, porém, se preparou o máximo que pode. “Logo no começo da minha carreira, tive um professor em Vitória, o Pedro de Alcântara, que era o único que sabia ensinar a técnica ali. E eu queria aprender harmonia e improvisação. E ele me ajudou muito”, lembra.
Logo que saiu da capital capixaba, Hercules entrou no curso de música popular, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), aos 19 anos. Para a prova de admissão, escolheu Wave, de Antônio Carlos Jobim. Fez uma fusão de jazz com bossa nova, agradou os avaliadores. Dali em diante, o tecladista tornou-se um pianista apaixonado, cercado de influências nacionais e internacionais.
São quatro os discos lançados em carreira solo — Pianismo, No Tempo de Chiquinha, Tia Amélia Para Sempre e Saraus Tupinambá — e muitas gravações com outros artistas e shows ao vivo. As harmonias e os improvisos são inspirados em César Camargo Mariano, Radamés Gnatalli, Chiquinha Gonzaga, Edu Lobo, Hermeto Pascoal, Hamilton Godói e Ernesto Nazareth. "Realmente, meu trabalho é muito eclético. Aprendi muito com todos esses grandes nomes", frisa.
O talento com as teclas já levou Hercules a tocar em Cuba, Argentina, Uruguai, Paraguai, Marrocos, Estados Unidos, Alemanha, Suécia e Israel. Antes dos palcos internacionais, ele tocou na noite em bares, mesmo após o lançamento do primeiro trabalho em estúdio, Pianismo, em 2013.
"É claro que as coisas que já estudei e toquei, como pagode, bossa nova, música clássica, foram muito marcantes. Hoje, utilizo nas composições e arranjos essas influências diluídas em choros, maracatus, frevos, valsas, sambas, forrós, ritmos que me definem e com os quais gosto de trabalhar. Também gosto muito de ser intérprete e nisso estão as influências da minha vida", acrescenta.
O imprevisível que reinventa
E foi no imprevisível que Hercules percebeu uma nova forma de fazer arte. Em 2020 estourou a pandemia de covid-19 e, no Brasil e no mundo, as casas de espetáculos tiveram de fechar as portas. O jeito de propagar sua arte foi fazer lives na internet.
Para sua surpresa, o canal dedicado à música nem tão comercial, que criou no Youtube, em pouco tempo, começou a agregar centenas, milhares de seguidores. Fazia shows, palestras, ministrava cursos. Habituou os internautas a encontros que, mesmo após o fim da pandemia, acontecem semanalmente. Fez campanhas de financiamento coletivo e compôs 30 músicas para pessoas que o apoiaram, que resultou na Série Gratidões.
“Comecei a fazer lives na pandemia e não parei mais. Estamos indo para a de número 216 nesta semana, o que significa que são 216 semanas ininterruptas, quatro anos de lives. Nada planejei sobre isso, mas acabei juntando uma turma que acompanha exclusivamente o som do piano e a música brasileira. Aos que colaboraram comigo dei, em troca, aulas de piano, partituras, palestras, e assim o projeto foi crescendo”, comemora o artista.
Depois de Paris, Hercules se apresentará, em setembro, no Marrocos e seguirá para uma turnê pelo Rio de Janeiro até o final do ano.