Copa do Mundo de Futebol terá disputa entre crianças em situação de rua

Evento paralelo à Copa de Futebol da FIFA, que será realizada em 2026, contará com 330 meninos e meninas em condições de vulnerabilidade de 28 países. Brasileira coordena projeto.

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Projeto "Em Busca de Uma Estrela" levará meninas da periferia de São Paulo para a Copa do Mundo de Futebol da FIFA Arquivo pessoal
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O poder de inclusão do futebol passará por um novo teste durante a realização da Copa do Mundo das Crianças de Rua, evento paralelo à 23ª Copa de Futebol da FIFA, que será realizada entre junho e julho do próximo ano no Canadá, nos Estados Unidos e no México. Serão 330 meninos e meninas em situação de rua, com idades entre 14 e 17 anos, representando 28 países.

No caso do Brasil, os participantes sairão do Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, e do projeto "Em busca de Estrelas", da periferia de São Paulo. Em setembro próximo, todos os países inscritos para a Copa se reunirão na Cidade do México para dar início aos preparativos da competição.

O anúncio é da organização Street Child United (Crianças de Rua Unidas), sediada em Londres, Inglaterra, que conta com a brasileira Júlia Pimenta, 34 anos, que vive na capital inglesa, como uma das coordenadoras. Ela adianta que os jogos serão realizados na Cidade do México, mas os líderes das equipes participarão de um tour pelos países e sedes onde ocorrerão os jogos da FIFA.

Ao PÚBLICO Brasil, Júlia explica que a ideia é levar a mensagem das crianças aos três países, culminando com um evento na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Estão confirmadas 33 delegações (alguns países terão mais de uma equipe) com dez jogadores cada.

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A brasileira Júlia Pimenta é uma das coordenadoras da Copa do Mundo de Crianças de Rua Arquivo pessoal

Muito além dos campos

Júlia detalha que a organização foi criada em 2010, um pouco antes da Copa da África do Sul, mas seu ingresso na competição mundial ocorreu em 2018, na Rússia. “Trabalhamos com ONGs e fundações no mundo todo, as quais lidam diretamente com meninos em situação de rua e têm melhores condições de selecionar os participantes”, destaca.

Para a brasileira, a preocupação não se resume em proporcionar um momento de felicidade para dos meninos e meninas, um acontecimento transitório. "Nosso foco principal é o que acontecerá com eles depois do evento. Prevemos um plano de ação e de apoio para cada participante para depois da Copa", enfatiza.

O futebol, segundo Júlia, quebra barreiras entre povos e classes sociais e favorece diálogos sobre a garantia dos direitos das crianças. “A Street Child United se baseia na Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança e, ao final da competição, escreve mensagens para os governos sobre as barreiras que sofrem por viverem nas ruas", frisa.

No entender da coordenara, a decisão da entidade foi de, na próxima Copa, realizar o evento apenas no México, apesar de os jogos oficiais da FIFA estarem espalhados por três países. Ela justifica que a capital mexicana reúne as melhores condições para o torneio com os menores. É lá que acontecerá o jogo inaugural do torneio global.

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Meninos do Street Child United Brasil, do Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, também estarão na próxima Copa do Mundo Arquivo pessoal

“A nossa Copa ocorrerá um pouco antes do primeiro jogo, a se realizar em 11 de junho, com a estreia do México contra um adversário ainda a ser definido. Procuramos atrair as atenções para a questão da diversidade e da vulnerabilidade enfrentada pelos meninos e meninas de rua nos países participantes”, descreve Júlia.

Brasil na Copa

A administradora de empresas Camila Stefano, 41, é responsável, em São Paulo, pelo projeto "Em busca de Estrelas", vinculado à instituição inglesa, que, em três anos de existência, congregou cerca de 3 mil meninas, das quais 120 são selecionadas anualmente. "Trata-se de um projeto de formação integral de atletas de futebol feminino, que funciona dentro de favelas e comunidades para selecionar meninas com interesse em se desenvolver e se formar por meio do futebol", explica.

Segundo Camila, são meninas a partir dos 9 anos de idade, sem oportunidades e em grande vulnerabilidade social, que são incentivadas a aderirem ao projeto que atua em várias dimensões. "O projeto inclui saúde, educação, aspectos físicos e nutricionais, com profissionais especializados nessas áreas para cuidar da vida de cada uma, que pode ser o futebol ou uma carreira acadêmica". assinala.

Para ela, a possibilidade de representar o Brasil na Copa foi uma vitória para a instituição que representa, que faz um trabalho "super diferenciado e bem feito". Camila destaca que as 10 meninas ainda não foram escolhidas, mas admitiu que o clima interno é o melhor possível, onde o futebol é somente mais um item, pois há a responsabilidade com a educação e o trabalho em equipe. "Futebol elas têm de sobra", afirma.

No Rio de Janeiro, o grupo que irá à Copa, oriundo do Complexo da Penha, é formado por meninos de várias comunidades. O projeto Street Child United Brasil, que nasceu na Copa de 2014, com o apoio da homônima inglesa, é coordenado pelo professor escocês Adam Reid, 63, que abraçou a causa das crianças para o futebol.

O professor conta que começou o projeto em 2013, um ano antes da Copa do Mundo do Brasil, quando procurava pessoas para organizar as atividades com as crianças. "Como sou britânico e estou há muitos anos no Brasil, criamos um legado do futebol no Complexo da Penha, cujos técnicos também são da comunidade", diz.