Para ministro da Economia, brasileiros trazem energia e rejuvenescem Portugal
Pedro Reis acredita que os brasileiros ajudam a desenvolver a economia portuguesa e quer que as agências estatais do país, como a AICEP e o Turismo de Portugal, trabalhem com parceiros do Brasil.
O ministro da Economia de Portugal, Pedro Reis, afirma que a presença de mais de meio milhão de brasileiros vivendo legalmente no país tem sido positiva em muitos aspectos. Ele acredita que os cidadãos oriundos do Brasil enriquecem Portugal culturalmente, preenchem lacunas no mercado de trabalho e trazem energia e juventude.
Assinado o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, Reis indica que Brasil e Portugal devem trabalhar conjuntamente para aproveitar as oportunidades que a criação da maior área de livre comércio do mundo trará. Para isso, considera que as instituições de estímulo e apoio à economia, como a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e o Turismo de Portugal deveriam trabalhar em colaboração com parceiros brasileiros, como a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil).
Com 57 anos, Reis é formado em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa, com especializações em Harvard e no Insead, da França. Foi presidente do AICEP, assessor da comissão executiva do Banco Millennium BCP e membro do conselho consultivo do Banco Português de Fomento. A seguir, os principais trechos da entrevista que o ministro concedeu ao PÚBLICO Brasil.
O comércio entre Brasil e Portugal ainda é reduzido. Como ampliá-lo?
Portugal e Brasil têm laços de amizade e cooperação muito fortes. Há, sem dúvida, um enorme potencial para aumentar as parcerias econômicas e intensificar as relações comerciais entre os dois países. Um dos objetivos do Governo é dar tração a esta relação. Isso faz-se dando mais visibilidade a uma agenda de investimentos que está agora particularmente bem alinhada. Na edição de 2024 do Web Summit, tivemos uma participação extraordinária de empresas e de investidores brasileiros. Precisamos transformar este interesse e vontade em negócios concretos.
Um caminho será, por exemplo, colocar as agências portuguesas a trabalhar de uma forma mais estreita junto com as brasileiras, como a AICEP, o Turismo de Portugal e a APEX. Além disso, há que sublinhar que os fundos que temos de dinamização, incentivo e apoio ao investimento em Portugal — e o mesmo para os da União Europeia — são aplicáveis a todas as empresas no país, logo, também às empresas brasileiras.
Qual o papel que a Casa Brasil em Lisboa pode ter para a ampliação das trocas comerciais e dos investimentos?
A Casa Brasil será certamente mais um elemento de dinamização e aproximação das duas economias que pode fazer a diferença. Como tenho dito, mais do que construir uma Casa Brasil em Lisboa, queremos que o Brasil se sinta em casa em Portugal.
As estimativas apontam para mais de 500 mil os brasileiros legalizados em Portugal. O que essa imigração trouxe para a economia portuguesa?
A comunidade brasileira tem ajudado a enriquecer Portugal de diferentes formas. Seja culturalmente, seja para colmatar as falhas do nosso mercado de trabalho, seja para energizar o nosso país, que precisa de se rejuvenescer. A comunidade brasileira é muito bem-vinda em Portugal e o investimento e energia que traz são importantes para acelerar o nosso crescimento.
O Mercosul e a União Europeia aprovaram a criação de uma área de livre comércio. Que papel pode ter Portugal para o Brasil nesse quadro?
O acordo da União Europeia com o Mercosul é uma oportunidade para concretizar esta vontade de estreitamento dos laços entre Portugal e o Brasil. Este acordo permitirá não só reduzir direitos alfandegários aplicados a trocas comerciais entre o Brasil e a União Europeia, incluindo Portugal, mas também, e tão importante quanto isso, reduzir outro tipo de barreiras, como as barreiras não pautais. Por exemplo: vai simplificar taxas de exportação, exigências de rotulagem, acesso a licenças de renovação de importações, registo de patentes. Estas medidas permitirão melhorar a concorrência entre as empresas, estimulando o negócio e as trocas comerciais.
E qual o papel do Brasil para Portugal?
Os impactos para Portugal são simétricos. Mas, vale a pena sublinhar que o Brasil, a par da Venezuela, é um importante cliente de Portugal nos produtos industriais. Este acordo do Mercosul só poderá favorecer esta relação.