As dicas de investimentos para aqueles que conseguem poupar em Portugal
As taxas de juros em Portugal são muito baixas, dizem especialistas. O caminho para brasileiros que conseguem poupar é investir no Brasil, mas é preciso ter cuidado para fazer as escolhas certas.
Nos últimos anos, centenas de milhares de brasileiros decidiram deixar o Brasil em direção a Portugal em busca uma vida melhor. Daqueles que estão em idade ativa, 85% estão empregados, segundo o Observatório das Migrações, sendo que vários deles têm conseguido chegar ao final do mês com uma sobra no caixa. O PÚBLICO Brasil perguntou a especialistas o que fazer para essa poupança render.
Investir no mercado financeiro em Portugal pode não ser a melhor opção. Segundo o Boletim Estatístico do Banco de Portugal (o equivalente português ao Banco Central), a taxa de juros paga nos depósitos a prazo em Portugal tem se situado em 2,55% ao ano, abaixo da inflação de 2024, de 3%. Isso significa dizer que, se deixarem o dinheiro em bancos portugueses, os poupadores terão rendimentos inferiores à variação do custo de vida. A vantagem é que o euro é uma moeda forte, um seguro contra oscilações cambiais. O ideal para quem deseja aplicar no Brasil é deixar uma parcela da poupança em Portugal, mesmo com os juros baixos.
“As taxas de juros abaixo da inflação em Portugal e na Europa como um todo têm como objetivo incentivar que os recursos não fiquem parados numa aplicação financeira, mas que sejam usados para investimentos na produção ou para o consumo. Ou seja, a meta é estimular o crescimento da economia”, diz a economista Vitória Saddi, da SM Managed Futures.
Para ela, quando se comparam as taxas de juros vigentes no Brasil e em Portugal, é mais vantajoso aplicar no mercado financeiro brasileiro. “Em 2024, no Brasil, a taxa média dos Certificados de Depósito Interbancário (CDI) foi de 10,85% ante uma inflação de 4,8%. Isso significa que o investidor teve um ganho real de 6,2%”, afirma.
A sugestão de Vitória para os brasileiros que estão em Portugal e têm dinheiro para investir é destinar parte do dinheiro para títulos de renda fixa, em que o investidor sabe quanto vai receber ao final da aplicação. “Essa é uma recomendação conservadora, com riscos menores. Os títulos e os fundos de renda fixa rendem quase 100% da variação do CDI. No Tesouro Direto, que negocia papéis emitidos pelo Governo, há várias opções com prazos de vencimentos diferentes”, explica. Ela frisa que o Tesouro Direto é bastante acessível. “O investimento pode ser feito a partir de R$ 100”, diz, referindo-se a um valor inferior a 20 euros.
O professor de finanças Ricardo Rocha, da escola de negócios Insper, tem opinião semelhante. “Para alguém que está morando em Portugal e tem conseguido poupar, é bom olhar para as taxas de juros no Brasil, que estão muito elevadas. Então, vale a pena ter ativos de renda fixa atrelados ao CDI”, sugere. Ele ressalta que praticamente não há risco de perda do investimento nas aplicações bancárias, mesmo se o banco escolhido falir. “No Brasil, a proteção contra o risco de quebra de um banco é de R$ 250 mil por instituição em que se tenha depósito”, detalha.
Outros investimentos
Há, porém, outras modalidades de investimentos que podem render mais, mas os riscos são maiores. “Nas aplicações em bolsa de valores, por exemplo, é preciso ficar atento ao sobe e desce dos preços das ações. Normalmente, os ganhos são proporcionais aos riscos. Os fundos multimercado (cujas carteiras reúnem vários ativos), por sua vez, podem pagar de 20% a 30% ao ano, ou mesmo darem prejuízo. No ano passado, as aplicações em renda variável renderam menos do que a renda fixa”, diz Vitória.
Também há alternativas para quem não quiser pagar Imposto de Renda sobre os ganhos com as aplicações. “São os casos das Letras de Crédito Imobiliário (LCI), das Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e das Debêntures de Infraestrutura incentivadas para pessoa física”, lista Rocha.
A lista de produtos financeiros inclui, ainda, os fundos de previdência, os chamados PGBL e VGBL. Na primeira opção, a tributação é regressiva, chegando a 10% após o décimo ano de aplicação. A vantagem é que os valores aplicados podem ser abatidos do Imposto de Renda a pagar à Receita Federal, mas, na hora do resgate dos recursos, o tributo incide sobre todo o patrimônio acumulado. Já no VGBL, os investidores são tributados apenas sobre os ganhos.
Cuidados necessários
Uma das grandes preocupações daqueles que querem enviar dinheiro para o Brasil para aplicar no mercado financeiro é com a segurança do banco escolhido. Há golpes na praça. "Um conselho é nunca depositar em uma conta que não esteja no nome do próprio poupador. Muitos golpes anunciam: 'deposite o dinheiro aqui e vai receber muito mais'. Isso não existe", relata Vitória Saddi. A sugestão dela é que o investimento seja feito por meio de uma das instituições reguladas pelo Banco Central.
Tais recomendações são reforçadas pela diretora executiva do Haitong Bank, Sanda Utsumi, e pelo professor Marcelo de Souza Sobreira, da HB Escola de Negócios. Para eles, não existem ganhos fáceis, e uma das formas de se proteger é se educando financeiramente. Conhecer as regras, assinalam, é fundamental. Sobreira também recomenda a diversificação das aplicações. "Nunca se deve colocar tudo numa cesta só", ensina.
Ricardo Rocha enfatiza a importância de se fazer tudo conforme prevê a legislação de cada país. "Isso passar por fechar o câmbio de maneira correta na hora do envio do dinheiro de Portugal para Brasil. Tudo deve ser declarado, segundo o que determina a Receita federal", aconselha. Outra recomendação é fazer apenas investimentos que a pessoa consiga acompanhar e compreender como funciona. "O mais delicado é que as pessoas estão indo para as criptomoedas, como o Bitcoin, sem entender direito”, alerta.
O professor reforça a posição de não se enviar todo o dinheiro que foi juntado em Portugal para o Brasil, pois é preciso ter um fundo de reserva para alguma necessidade. “Eu diria que o brasileiro deve deixar em Portugal uma parte dos recursos para um fundo de emergência, para alguma necessidade de curto prazo”, complementa.