Startups buscam caminho para crescer, e Aveiro se torna peça central nesse processo
FutureXPO reúne 50 startups brasileiras e 75 portuguesas, além de empresas de tecnologia e investidores interessados em inovação. Aveiro quer se tornar um hub para a Europa.
Retenção de mão de obra qualificada, multiplicação de oportunidades, atração de jovens talentos e projetos inovadores entre Brasil e Portugal. Esses são os principais desafios para as startups brasileiras e portuguesas, segundo participantes da FutureXPO, realizada nesta semana em Aveiro. Dos cerca de 400 participantes, 50 startups eram brasileiras e 75, portuguesas. O encontro também contou com a presença de empresários e investidores interessados em inovação.
Segundo o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território de Portugal, Silvério Regalado, o setor de tecnologia tem sido fundamental para o desenvolvimento do país e para a consolidação de Aveiro como polo de inovação e para a formação de pessoas capacitadas. A cidade, na avaliação dele, se tornou um hub tecnológico da Europa.
Para Simão Calado, diretor da Ibero Partners e um dos coordenadores do evento, tem se percebido, em Aveiro, uma propensão para a inovação, devido ao parque da ciência e tecnologia ali instalado com apoio do município, da universidade local e, agora, com a criação da zona livre tecnológica. "Aveiro é uma região atrativa para empresas nacionais e internacionais que estão disputando mercados, com vistas a se instalarem na Europa", frisou
Especializada no apoio à internacionalização de empreendimentos, a Ibero Partners trouxe recentemente para Portugal a Startupbootcamp, que nasceu na Holanda e tem se posicionado como uma das maiores aceleradoras de empresas da Europa e do mundo, cuja instalação, em Aveiro, criou um polo tecnológico europeu. “Trata-se de um marco na região, pois, a partir de Aveiro, a Startupbootcamp tem tudo para ampliar a estratégia de alavancar empresas e o desenvolvimento local”, frisou Calado.
Ele observou que, nos últimos dois anos, foi desafiador montar um plano de negócios para a instalação da aceleradora em Portugal com o objetivo de atender os mercados, especialmente, o Brasil, como porta de entrada de empreendedores na Europa. “Mostramos, na FutureXPO, oportunidades para investimentos qualificados de startups e de criação de um ecossistema de inovação”, ressaltou.
Alerta ao Brasil
Diretor-geral da Startupbootcamp no Brasil e na Holanda, o brasileiro Giovanni Vaccari, 29 anos, que coordenou a apresentação das empresas brasileiras no evento, demonstrou entusiasmo com a representatividade e o nível dos negócios, “apesar de constatar as grandes dificuldades no mundo de hoje", numa clara referência às turbulências criadas pelo tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para ele, ainda que as incertezas na economia sejam evidentes, há soluções à vista.
“A nossa missão é dar palco às empresas, para serem vistas e para que aqueles que têm condições de ajudá-las com investimentos, conexões e mentorias possam fazê-lo”, disse Vaccari. No entender dele, a despeito de ser uma cidade menor do que Lisboa, Aveiro tem demonstrado uma efervescência para os negócios na área de tecnologia que vem atraindo muita gente. "A cidade é tecnicamente menor que Lisboa, mas está pronta para receber a inovação”, acrescentou.
Em relação ao Brasil, o executivo fez uma advertência: “O país tem grandes ideias e potencial para desenvolver suas startups. Tem talentos, mentes brilhantes, mas pode ficar para trás, caso não haja recursos para alavancar esse potencial”.
Diretor Portugal
Para o diretor-geral da Startupbootcamp Portugal, Wilson Rainho, um dos caminhos para Aveiro se consolidar de vez como hub tecnológico europeu passa pela conexão entre os participantes do ecossistema, a fim de que realmente os empreendedores encontrem condições efetivas para se desenvolverem. "Um empreendedor sozinho no meio do deserto não conseguirá atingir nada”, advertiu.
Na opinião de Rainho, as startups precisam ter acesso a várias ferramentas indispensáveis para o sucesso, como investimentos, aconselhamento, know how e mão de obra. “O importante é reunir tudo isso num ecossistema, para se estabelecer pontes que permitam a interação entre as startups”, recomendou.
Nesse sentido, ele citou o exemplo de um participante da FutureXPO, ligado ao setor de logística, que está à procura de interessados em levar o negócio para a Etiópia. “Às vezes, coisas menores podem promover interações que, daqui a dois ou três meses, resultem em contratos e investimentos, com ganhos importantes mais à frente”, citou.
Chilli Beans, caso de sucesso
A franquia brasileira de óculos Chilli Beans, que já foi uma startup, atravessou o Atlântico e ocupa lugar de destaque dos casos de sucesso do setor. Franqueado da marca, o brasileiro Rodrigo Gonçalves de Sousa, 40, natural de Minas Gerais, se instalou no Porto há um ano e disse estar sempre atento às inovações tecnológicas para soluções que possam ser adotadas nas lojas.
“O futuro da Chilli Beans em Portugal é promissor. Se, no Brasil, a marca já está consolidada, com mais de 1.300 lojas, em Portugal, estamos começando. Já são 10 lojas e há um mercado para mais de 100”, assegurou o empresário. Segundo ele, o crescimento de suas operações neste ano, em relação a 2024, será de 45%.
Sônia Magalhães, da empresa de investimentos Octanova, pretende apoiar startups numa fase inicial. Para ela, esse movimento pode ser feito por meio de uma aceleradora como a Startupbootcamp, que tem capacidade para acompanhar e monitorar os negócios em evolução. “Essa parceria é muito importante e está alinhada com o que pretendemos”, sublinhou.
A executiva destacou, ainda, que o papel dos brasileiros nesse processo, que têm muito a ensinar aos investidores. “Quando se trata de mercado financeiro, são muito mais sofisticados e dinâmicos do que em Portugal, e a Octanova quer aprender com as melhores práticas”, afirmou. O fundo que ela administra tem 30 milhões de euros (R$ 180 milhões) para investimentos e a meta é capitalizá-lo ainda mais em um ou dois anos, com possibilidade de listá-lo na bolsa Nxchange, da Holanda.
O repórter viajou a convite da FutureXPO.