O jeitinho português

No geral, os portugueses são carinhosos. Pode não ser com o entusiasmo dos brasileiros, mas eles expressam carinho e sabem ser acolhedores.

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Recentemente, um amigo brasileiro veio me visitar e perguntou: “Em geral, você gosta dos portugueses?”

Eu posso listar aqui algumas características portuguesas que me encantam e outras que eu não gosto, claro, porque todos os povos têm seus bons e maus costumes. O que me chamou a atenção, logo no início, foi a forma querida que os portugueses têm, de usar os diminutivos. Adoro, por exemplo, os “beijinhos” na hora da despedida, sair para beber uns “copinhos”, um “vinhozinho”, esperar um “bocadinho”...

Acho um “jeitinho” carinhoso de se comunicar. Adoro quando chamam as crianças de “miúdos” ou “putos”, quando usam o “é suposto” para se referir ao que é previsto e o “perceber”, em vez de entender. A expressão que eu mais amo é portuguesa: “É o que é!" Só de ouvir, já me aconchega a alma, porque é um fato, e quando a gente entende e aceita isso, vive mais em paz.

Acho os portugueses menos estressados, menos consumistas, e menos ambiciosos, se compararmos a nós, brasileiros. Claro que estou generalizando tudo, no “bom e velho” gerúndio que os “brazucas” tanto usam na fala e que os “portugas” parecem desconhecer.

Só há uma situação em que os portugueses são mais estressados: no trânsito. É uma tal de, perdoem o palavreado, “Foda-se, Caralho”, tudo com letra maiúscula, porque, no trânsito, eles pronunciam isso aos gritos e com entonação. Os portugueses são nervosos e brabos quando dirigem e adoram uma fila dupla, o que só atrapalha o trânsito.

No geral, acho os portugueses carinhosos. Abraçam, beijam... Pode não ser com o entusiasmo dos brasileiros, mas eles expressam carinho e sabem ser acolhedores. Há os rabugentos, claro, mas esses, geralmente, têm mais de 60 anos e não são dados a muitas socializações.

Outro detalhe que aprecio é que eles valorizam as festas e datas importantes, como Natal, Santos Populares, Feiras Medievais. Acho tudo lindo. E gosto da forma como os portugueses valorizam o tempo, tempo para o almoço, para o cafezinho da tarde, para o estar à volta da mesa numa prosa com muitos pães, enchidos, doces e bolinhos.

Adoro o hábito de beber água nas refeições, e não tantos refrigerantes ou sucos. Sobre o vinho, nem vou falar, porque, nesse assunto, acho que é o país com o melhor custo-benefício do mundo. Ah, quase me esqueço do “bué”, expressão de origem africana, e do “se calhar”, que os portugueses usam para quase tudo. A primeira quer dizer muito, e a segunda, um talvez quase sim. Também adoro o “fôôôgo”, em vez de “nóóssa”, e o “fixe”, para dizer que é legal, bacana.

Acho que já deu para perceber que, sim, eu gosto dos portugueses. Às vezes, é preciso um pouco de paciência, risos, mas sou feliz em Portugal. O humor deles é diferente, mais sutil, se expressam de forma menos direta do que os brasileiros, muitas vezes, falam muito para dizer pouco, mas uma das pessoas que eu mais amo na vida nasceu e vive em Portugal. Então, acho que não preciso responder mais nada.