Brasileiros têm investimentos em tecnologia espalhados por 138 cidades de 31 países
Relatório da Brazil Tech Diaspora aponta que cerca de 400 empreendedores e investidores brasileiros têm conexões com capacidade para facilitar negócios em escala global.
Relatório da Brazil Tech Diaspora, sobre a presença de brasileiros na área de tecnologia, aponta que cerca de 400 empreendedores, investidores e executivos estão espalhados por 138 cidades de 31 países. Os números revelam que a diáspora brasileira possui capacidade de realizar conexões e de facilitar negócios globais em larga escala.
O documento demonstra que a preferência desses profissionais é pela busca de ambientes mais seguros, oportunidades de carreira e ecossistemas com mais capital e inovação, tanto pelas oportunidades oferecidas quanto por motivos pessoais. Desse total, mais da metade (59%) foi para os Estados Unidos, especialmente para Califórnia, Nova York e Flórida. Outros 30% preferiram a Europa, com destaque para Lisboa, Londres e Zurique.
Há empresas brasileiras que conquistaram escala global, das quais 49% estão sediadas em território norte-americano e 19%, no Brasil. Os principais exemplos são a Brex, a Wellhub, a OneSkin, a Birdie e a Digibee, que atuam, predominantes, no B2B (Business to Business) Saas — 45% do total —, e as fintechs, com 18%.
Para o professor Marcelo de Souza Sobreira, da HB Escola de Negócios, quando optam por se internacionalizarem, as empresas buscam garantir parte do faturamento em moedas fortes, como o euro e o dólar. Empresários e investidores também recorrem à melhor qualidade de vida, sem abrir mão das operações no Brasil.
Obstáculos para crescer
O documento informa, também, que os principais desafios enfrentados pelos empresários que optam pela internacionalização de seus negócios são os acessos a capitais e a redes locais, as barreiras culturais e a credibilidade para se inserir nos mercados. Para 81% a construção do networking é vista como o maior obstáculo.
O brasileiro Mateus Sefarim, fundador da Netmore, que está presente em Portugal, sabe muito bem o quanto o capital disponível é importante para crescer. Tanto que ele se associou ao investidor João Kepler, que injetou 2 milhões de euros na empresa. A Startupbootcamp, por sua vez, lançou um fundo para captar ao menos 21 milhões de euros em território luso para incrementar os negócios em seu ecossistema.
Entre os entrevistados para o relatório ficou evidenciado que, apesar de todo o interesse pelo mercado internacional, o compromisso com o Brasil permanece firme, notadamente para 93 % deles. O objetivo é retribuir ao ecossistema econômico brasileiro o sucesso que conquistaram.
Essa retribuição passa por investimentos em startups, mentoria, filantropia, contratação de profissionais locais e participação em conselhos. "Manter parte dos negócios em território brasileiro é fundamental", afirma Cláudio Santos, do Next Group.
Pensar global e agir local
Os hubs mais destacados para a diáspora, conforme o documento, são o Silicon Valley (Califórnia), onde está localizado o epicentro de inteligência artificial (IA) e deep techs; Miami, por ser um mercado latino-americano emergente em fintechs; e Nova York, que concentra os mercados de capitais e de bens de consumo, além de Boston e Cambridge, com destaque para biotecnologia e deep techs.
Fora desse eixo norte-americano, o relatório da Brazil Tech Diaspora cita os europeus, com especial atenção para a capital portuguesa, que se tornou referência como polo de entrada para a União Europeia. Em viagem ao Brasil, em fevereiro deste ano, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, convocou os brasileiros a investirem em seu país, que possui linha de crédito de 1 bilhão de euros (1 mil milhões de euros) para apoiar empreendimentos.
Já o polo asiático é representado por Singapura. O documento observa, ainda, que “o futuro da inovação brasileira passa pela sua capacidade de pensar global e agir local”.
Líderes como Fabrício Bloisi (Prosus), Lidiane Jones (ex-Slack/Bumble) e César Carvalho (Wellhub) são considerados no relatório exemplos de como a experiência internacional pode transformar o Brasil. “A diáspora tech brasileira é mais do que um fenômeno de escala, pois multiplica impacto ao conectar conhecimento, capital e propósito entre países”, conclui o documento.