Goiana troca as salas de aula por restaurante de comida caseira no Porto

Após 23 anos como professora no interior de Goiás, Adriana Oliveira investe em empreendimento que fornece 200 refeições por dia. Quatro em cada dez clientes são portugueses.

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A goiana Adriana Oliveira deixou as salas de aulas depois de 23 anos como professora para abrir, com o marido Dalmo, um restaurante no Porto Sérgio Nascimento
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Adriana Oliveira trabalhou 23 anos como professora efetiva da rede pública, lecionando para turmas da educação infantil ao ensino universitário, em Ceres, no interior de Goiás. Contudo, uma viagem a Portugal, em 2023, virou a vida dela de cabeça para baixo. E para o bem, acredita a goiana, que trocou as salas de aula pela cozinha de um restaurante que atrai, diariamente, centenas de brasileiros e portugueses, no bairro da Boavista, no Porto. A mãe, o irmão e os tios dela já viviam em terras lusa, e Adriana, de férias, em um dia de passeio pelas ruas do Porto, sentiu que faltava algo: a comida brasileira no prato.

Ela juntou a vontade de trabalhar em outra área com a ausência, nos cardápios da cidade, do feijão tropeiro, do frango com quiabo e da farofa e, com o marido, Dalmo Oliveira, também funcionário público, abriu o estabelecimento, focado na culinária dos estados de Goiás e Minas Gerais. Quando olha para trás, ela considera que voltou às origens.

“Estava de férias em Portugal e senti saudade da comida brasileira. E foi bem ali, naquela perspectiva, que enxerguei uma oportunidade de trabalho. Já nasci envolvida nesse universo de culinária. A minha mãe conseguiu criar quatro filhos vendendo bolos na varanda de casa", diz. "Cresci vendo ela cozinhando. Então, para mim, isso é muito natural. Minha avó foi dona de padaria, minha bisavó, também”, acrescenta Adriana, que, quando deixou o magistério, lecionava literatura, redação e língua portuguesa para alunos do ensino médio.

Ela e o marido começaram o negócio em Portugal em um espaço com 22 metros quadrados no Shopping Brasília, em abril de 2024. O restaurante, batizado de Caseirinhos de cada dia, dá nome ao prato que junta arroz, feijão, batata frita, ovo e salada. Essa combinação de sabores foi, aos poucos, conquistando a clientela.

Tanto que, seis meses depois, o empreendimento teve de mudar para outra loja, com quase o dobro do tamanho, onde a goiana fornece, em média, 200 pratos por dia. Da clientela, 60% são brasileiros e 40%, portugueses. O restaurante funciona para almoço de terça a sábado.

“No começo, pecávamos por causa do tempo de entrega das refeições aos clientes. Para agilizar o serviço, implantamos outro sistema muito usado no Brasil, o self-service, em que a pessoa chega e já vai se servindo”, afirma a goiana. Além do marido e dois filhos que a ajudam, ela emprega quatro pessoas, sendo três na cozinha e uma no marketing. Ela tem uma terceira filha, que mora no Brasil e está se formando em medicina.

Pegada afetiva

Enquanto trabalhava como professora, Adriana já fazia bolos, doces e sobremesas low carb, ou seja, com baixo consumo de carboidratos. E, nos finais de ano, preparava jantares e ceias de Natal e ano-novo por encomenda. Quando abriu o restaurante no Porto, investiu na culinária brasileira, mas com uma pegada afetiva, através de lembranças proporcionadas pelo sabor que a comida caseira traz.

Além do prato que dá nome ao restaurante, o cardápio inclui feijoada, tutu à mineira, vaca atolada, banana frita, galinhada e moqueca. “Nosso arroz e nosso feijão são feitos todos os dias pela manhã, nossos legumes são in natura e a gente os descasca, corta e cozinha. Partimos do princípio do 'desembale menos e descasque mais', essa é nossa cultura", detalha

Faz parte dos planos da goiana abrir outras unidades do restaurante. "Já estamos com processo de registro de marca para abrirmos filiais”, frisa a empresária, graduada em pedagogia e com mestrado em tecnologias emergentes da educação.

Para os brasileiros que desejam empreender em Portugal, ela aconselha: “Quando você deseja de coração, se é um sonho da sua vida, então insista, invista, procure recursos, uma rede de apoio bacana, como a que a minha família me proporcionou, que dá tudo certo. Tudo aquilo que a gente acredita e que nasce realmente do coração é algo que tem tudo para dar certo”.