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Advogado especialista em imigração
Criticar Portugal por querer tornar as regras para a nacionalidade mais dura, quando outros países europeus já o fizeram, é ignorar que esta é uma prerrogativa soberana. Não se trata de xenofobia.
Portugal deu um passo relevante para que os imigrantes comecem mesmo a pensar em regressar aos seus países de origem, como exclamam muitos xenófobos por aí.
O governo parece querer repetir o caminho da Espanha de 1492, de Uganda de 1972. História conhecida, final previsível: países que expulsam populações se tornam mais pobres e isolados.
Quando bem direcionado, o investimento em infraestrutura não apenas constrói pontes e aeroportos — constrói também pontes entre comunidades e perspectivas de futuro compartilhado.
O custo da diplomacia ideológica pode ser alto. Em mercados globais, reputação institucional conta tanto quanto fundamentos econômicos.
Não se trata de submissão aos EUA. Proselitismo intelectual não paga as contas de quem perderá o emprego. Paris pode ser linda, mas milhões de brasileiros precisam trabalhar lá mesmo, no Brasil.
Enquanto estudos da Universidade do Porto mostram que são necessários 138 mil imigrantes anuais para Portugal crescer 3%, o Parlamento decide que é melhor crescer 1,11% e definhar.
Portugal consegue ser simultaneamente kafkiano e autodestrutivo: extingue vistos de procura de trabalho justo quando precisa de mão de obra, dificulta a naturalização quando necessita reter talentos.
O Golden Visa português é um dos mais sofisticados contos do vigário da história moderna.
Luís Montenegro conseguiu o milagre “odoricano”: transformou-se de defunto político em ressuscitado eleitoral, apesar do fatídico episódio que derrubou seu governo há poucos meses.
Portugal, que tanto se orgulha de sua “vocação universal” e de suas “pontes com o mundo”, escolhe, agora, erguer muros. E o faz em plena pré-campanha eleitoral em relação à imigração.
A questão migratória portuguesa demonstra como o Estado moderno, mesmo quando tenta reagir a pressões populares por controle de fronteiras, permanece preso a soluções burocráticas que não funcionam.
O grande risco para os cidadãos comuns é o estabelecimento de um sistema que, sob o pretexto da eficiência e da segurança, elimine a privacidade financeira e a autonomia individual.
A queda do governo não é apenas uma crise política, é o sintoma de uma fragilidade institucional crônica. Nossas instituições sofrem de osteoporose, quebrando-se ao primeiro espirro da realidade.
O discurso solene dos políticos para entreter a plateia sem assumir compromissos reais e um brinde à maior conquista da diplomacia, a arte de falar sem dizer nada.
Os cidadãos da CPLP, que aguardam há tempos pela resolução dos problemas relacionados aos títulos de residência em Portugal, não merecem contemplar uma vitória de Pirro.
Enquanto Trump constrói seus muros metafóricos e literais, a comunidade brasileira em Portugal prova que pontes — especialmente aquelas sobre o Atlântico — são bem mais interessantes.
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