Os leitores são a força e a vida dos jornais. Contamos com o seu apoio, assine.
Os leitores são a força e a vida do PÚBLICO. Obrigado pelo seu apoio.
Cantor e compositor
Agora proíbem a Burka, depois a chamuça, a catchupa, a feijoada, o crioulo, o português do Brasil.
A língua já cansada e saudosa de Camões, Pessoa, Hélder, Florbela vai à rua com cartazes e prega: o primeiro passo para ganhar o corpo é fazer a língua acreditar que temos mãos e cérebro para votar.
Mesmo sem saber, pardos, pretos e brancos ainda se comportam como nossos povos originários.
Foi o que vimos neste domingo nas manifestações pelo país e nas diásporas brasileiras espalhadas pelo mundo.
Não vamos tirar a língua de nossa boca. É tempo de individualizarmos gentilezas entre portugueses, africanos e brasileiros e curar feridas com o sal do Atlântico, que nos pariu, nos une e nos separa.
Talvez devêssemos definir a data da prisão de Jair Bolsonaro como o novo dia a ser celebrada a independência do Brasil.
É absolutamente desnecessário o embate entre portugueses e brasileiros pela língua portuguesa, plantado e impulsionado pelas redes sociais de pesca fascista.
A música e a poesia, certamente, explicam mais facilmente a vida. Ferreira Gullar já dizia que a arte existe porque a vida não basta.
Em tempos de lockdown retroativo com tornozeleira em domicílio no Brasil e de proibição de amamentação em Portugal, pego carona com o velho Chico.
Na caravela da Anunciação, cabem todos, mães de santo, padres, ateus, caciques tupinambás, políticos, madames do Leblon e povo trabalhador.
É redutivo, diminutivo e contraproducente se comunicar apenas com a comunidade migrante e para ela.
São muitos anos de “vinhaças” e alheiras de Mirandela, mas aí vem Santo António e desanda o projeto.
Escravizar o povo indígena não foi tarefa possível na chegada dos vendilhões portugueses de gente e de ouro às terras de Santa Cruz.
Decidiu-se, por decreto-lei, que o campo era, agora, moradia apenas de milho branco. O povo deveria viver amontoado debaixo da ponte 25 de Abril.
Duvido que o português, ao assumir que foi transformado genética e culturalmente pelos povos colonizados, não possa, afinal, encontrar a carta náutica para o caminho da cura, da falta de alegria.
Boto fé na coragem dos emigrantes portugueses e paquistaneses, persas e poloneses, peruanos e piauienses. Boto fé na alegria que basta ter boca, sol e dentes para brilhar e sorrir.
O projeto de minar o ensino fundamental no Brasil para criar um curral eleitoral formou o pobre de direita, que já não sonha em ser patrão, mas se contenta em ser um “pet” de estimação de fascistas.
Mesmo sendo 10% da população de Portugal, os lusos-brasileiros e os portugueses-africanos não estão representados politicamente, nem entre os partidos de esquerda.
O português é tão misturado quanto o nosso genoma, rico em vocabulário indígena e africano. E é justamente este o português que ganhou escala, com aproximadamente 300 milhões de falantes.
Os “Zés” brasileiros que constroem o país e lutam pelo direito de existir. A população negra representa 57% dos cidadãos do Brasil.
Ocorreu um erro aqui, ui ui