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Ruy Filho é crítico de cultura, editor da Plataforma de Artes Antro Positivo e Investigador do Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa
O mundo é grande demais para nos aprisionarmos dentro de nós mesmos e frágil demais para nos esquecermos de habitá-lo.
Precisamos tornar a presença africana nas instituições culturais impossível de ser interrompida. É só perceber o quanto conservadores e extremistas se assustam com essas presenças.
Alguém já se deu conta de outras pessoas lhe flagrar sorrindo sozinho, durante uma experiência poética, sem qualquer aparente motivo para isso? Ou em estado de espanto? Isso tem nome: liberdade.
Não se pode permitir que a tecnologia seja usada para apagar o passado ou mesmo para reescrevê-lo. O caminho será o colapso da realidade. De inseguros, passaremos a indefesos.
O isolamento linguístico, seja pelo surgimento de um vocabulário cifrado, seja pelo apagamento de palavras, é um movimento para tornar o indivíduo manipulável ao pior: subserviente e descartável.
Sentimentos são os meios mais efetivos para aumentar o tensionamento entre as comunicações. E o contemporâneo comprova sermos cada vez mais guiados por imagens quando somos conduzidos pelas tensões.
Como é possível falar do presente sem, durante a descrição dos acontecimentos políticos e sociais, incluir o fascismo e o nazismo? Como deixá-los de fora, se os seus defensores agem às claras?
Sobra-nos pouco tempo para sermos diferentes, pois não há espaço para nos reinventarmos. Esse não é um atributo de agora, mas impõe-se de forma muito mais radical.
As convenções climáticas globais provocaram poucas mudanças em nossos comportamentos e economias. Alheias às urgências efetivas, as ações foram substituídas por discursos e promessas nunca realizadas.
Há dois anos, o Brasil assistiu invadirem os edifícios dos Três Poderes, durante a tentativa de golpe, que, agora, sabe-se, continha planos de assassinatos políticos e tomada definitiva do poder.
É evidente o interesse do PSD em tomar para si as pautas radicais da extrema-direita. Luís Montenegro age feito um segundo-ministro, enquanto, na prática, o primeiro é André Ventura.
Está na hora de as ruas serem ocupadas em nome das artes e de suas instituições, para Portugal não se tornar um país meramente cenográfico, de discurso histórico saudosista e exploração turística.
Acredite, dividir o olhar com alguém, essa ação tão simples, e que se desdobra em perceber e reconhecer, também é um gesto político revolucionário. E dos melhores.
O espetáculo promovido pelo Governo em Martim Moniz, com policiais e imigrantes como personagens em conflito, forjou uma narrativa e expos a farsa de seus criadores.
Pessoas são forjadas para servir de alicerce de validação dos princípios conservadores, em suas defesas nacionalistas, protecionistas e fronteiriças. Não serão esses os interessados pela mobilidade.
Só se luta contra aquilo que se faz vivo em si mesmo. E negar e reagir é o primeiro gesto da arte. Mesmo que seja contra quem se é, contra quem não se quer ser, contra aquilo que o atormenta.
A política, se ainda lhe interessar impedir o desmoronamento, precisa agir e achar maneiras de facilitar o acesso às moradias, preparar a cidade e proteger nossa subjetividade.
Quando personalidades agem de forma contrária ao esperado, a comunidade é estraçalhada por seu próprio julgamento. E isso serve à celebridade e ao político.
Se compreendermos a potência dos símbolos, poderemos organizar respostas à sociedade, e não aos extremistas, e inverter a Guerra Cultural que tanto lhes interessa.
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