Ninguém pode com Big Balls

Uma geração recém-saída do ensino médio tomou conta do que antes se entendia por esfera pública. Traz atitudes impertinentes, nomes bizarros, vídeos curtos e expressões chiclete.

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O que Portugal precisa? Muitas coisas, na ótica de um observador paleolítico de imaginação analógica: incentivos fiscais para atrair e reter trabalhadores? Modernizar e descentralizar os serviços de saúde para acabar com as longas esperas? Regular o mercado imobiliário para conter os preços e a especulação?

Não, nada disso, segundo o perspicaz António Maria, que declarou precisamente o que Portugal precisa ao ser questionado por André Ventura, do Chega, em um vídeo disseminado no TikTok: “Uma limpeza” – é isso que Portugal precisa. Todos riem na plateia (é um evento político) e, veja bem, “não sou eu quem está dizendo isso”, ressalta Ventura, “mas António Maria” – e António Maria deve saber do que está falando, pois “até crianças sabem do que Portugal precisa”, e ele tem apenas doze anos de idade, afinal!

"Limpeza" é exatamente o que a equipe de jovens entre 18 e 25 anos, arregimentada por Elon Musk, está promovendo neste momento no Departamento de Eficiência Governamental, ou DOGE, órgão (?) recém-criado pelo governo Trump. Nessa estrutura, suas mentes brilhantes vasculham sistemas sensíveis, como o Departamento de Energia (que guarda informações sobre armas nucleares) e o sistema de pagamentos de US$ 6 trilhões (R$ 35 trilhões ou mil milhões) anuais do Departamento do Tesouro, prontos para “limpar” do orçamento pagamentos de benefícios sociais e salários de funcionários federais.

No DOGE, um nome chamou a atenção entre os minions de Musk: um certo Big Balls, como ele se apresenta online – de forma autoexplicativa, possivelmente –, gerando uma repercussão intensa não apenas nas redes sociais, mas também em veículos tradicionais, como a CNN. A emissora levou a sério a questão do suposto tamanho dos testículos de Edward Coristine, de 19 anos (o Big Balls), e também se indignou com o nome “infeliz” de uma empresa fundada anteriormente por ele, a Tesla.Sexy LLC.

Musk, de 54 anos, foi ao X compartilhar sua alegria infantil com o fato de a CNN noticiar nomes tão bobos. “Isso estava realmente na TV”, escreveu ele em uma postagem, acompanhada de três emojis de riso e uma foto do programa na tela – detalhe: Musk tuitou 1.800 vezes nos últimos seis dias, registre-se.

Resta saber o que caberia a uma emissora de TV fazer, se não manchetar, como fez a CNN, que “O adolescente do DOGE, conhecido on-line como Big Balls, agora é um ‘especialista’ do governo.”

A emissora fez o que qualquer um faria diante da forma como o poder se submeteu à geração recém-saída do ensino médio e que tomou conta do que antes se entendia por esfera pública: realimentar as atitudes impertinentes, os nomes bizarros, os vídeos curtos, as expressões chiclete, os tiros para todos os lados, os bonés e os óculos Juliet (aqueles alongados, com lentes espelhadas), tudo exibido no presente perpétuo e no fluxo incessante da rede.

É exatamente o que Sidônio Palmeira faz atualmente no comando da comunicação do governo brasileiro, que despertou, com alguns anos de atraso, para o mundo das vibes, dos estímulos e da dopamina. Assim, chamou para si a equipe digital vitoriosa da eleição de João Campos (31 anos) à prefeitura de Recife e tenta virar o jogo, ainda dominado pelo bolsonarismo na Internet. Dali já saiu um boné – o azul, estampado com a frase “O Brasil é para os brasileiros” –, que virou meme e combustível para tudo o que se imagina (e o que não se imagina), dentro e fora da rede.

Mas um boné azul é pouco. Com o exemplo de João Campos, espera-se mais de Lula e seu governo: dancinhas, cabelos descoloridos, nonsense e closes no TikTok com óculos Juliet. Isso é o que o Brasil precisa, o que Portugal precisa – o que o mundo precisa. Pergunte a António Maria, que sabe das coisas!

Ninguém pode com Big Balls.